sábado, 17 de maio de 2014

Noite Lisboeta



Estava nas águas furtadas de um prédio antigo, na baixa Lisboeta.
Olhava pela janela. Via sombras vaguearem pela rua estreita de sentido único.
Fumava um cigarro que carbonizava todas as ideias transformando-as em fumo e pó.
A janela estava fechada. O espaço ficava inundado por um nevoeiro quente e cinzento.
Não havia metáforas nem hipérboles, eu dava ao assassino o poder e a permissão para me matar um pouco mais a cada dia que passava.
Ao fundo um gira discos antigo percorria as linhas corporais de um vinil poeirento. A música era calma.
A meu lado erguia-se a sombra de uma garrava de tinto e um copo com um beijo meu.

Olhei a rua de novo.
Estava uma noite lívida, não obstante bonita.
Olhei o céu.
As estrelas queimaram-me os olhos e a lua rasgou-me a pele.
E eu deixei.


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