sábado, 17 de maio de 2014

Noite Lisboeta



Estava nas águas furtadas de um prédio antigo, na baixa Lisboeta.
Olhava pela janela. Via sombras vaguearem pela rua estreita de sentido único.
Fumava um cigarro que carbonizava todas as ideias transformando-as em fumo e pó.
A janela estava fechada. O espaço ficava inundado por um nevoeiro quente e cinzento.
Não havia metáforas nem hipérboles, eu dava ao assassino o poder e a permissão para me matar um pouco mais a cada dia que passava.
Ao fundo um gira discos antigo percorria as linhas corporais de um vinil poeirento. A música era calma.
A meu lado erguia-se a sombra de uma garrava de tinto e um copo com um beijo meu.

Olhei a rua de novo.
Estava uma noite lívida, não obstante bonita.
Olhei o céu.
As estrelas queimaram-me os olhos e a lua rasgou-me a pele.
E eu deixei.


domingo, 4 de maio de 2014

Sonhando intensamente


E de repente o mundo gira e roda
E tudo em teu redor muda de posição.
O teu olhar perdido denuncia o medo.
O medo de te perderes.
Um dos teus maiores.
Ao fundo já não há luz
E a estrada foge-te dos pés.
Ficas a flutuar, mexendo os braços para não caíres.
Sem efeito. Começas a cair.
O teu corpo embate na massa azul do Oceano Pacífico.
Sentes a água invadir-te o corpo.
Um tubarão aproxima-se.
Nadas, nadas, nadas! Esforças-te para chegar a terra firme.
Não abres os olhos, nadas apenas.
Embates na areia e finalmente dás luz ás tuas pupilas dilatas.
O tubarão já havia desaparecido.
Olhas em teu redor e vês um paraíso selvagem.
Tentas correr para dentro dele e não consegues.
As pernas pesam e não as consegues mover com a rapidez desejada.
Prendem-se a ti.
Entras em pânico.
De repente encontras-te deitada na cama, acabada de acordar, pronta para mais um dia de trabalho.