sábado, 19 de outubro de 2013

Vou andando por aí

Vou crescendo.
Sem medo de aprender.
Sem medo de errar.
Sem medo de crescer.
Vou contando os dias,
com medo de me perder.
Perder neste tempo,
finitamente finito.
Com medo de me esquecer.
Esquecer das horas, dias, meses, anos.
As horas já me esqueço.
Os dias vou-me lembrando forçosamente.
Não controlo o tempo porém, controla-me ele a mim.
Sinto revolta!
Até o tutano se exalta!
Que vida é esta em que somos controlados e nada controlamos?
É a vida digna, a que merecemos!
A liberdade esvai-se-nos por entre os dedos como gelatina.
Tudo nos és tirado e tudo nos é dado.
Vão havendo substituições: pessoas vão, pessoas vêm, pessoas mudam.
O tempo muda e o vento toma outra direção, levando-nos a outros mundos.
A vida é uma descoberta, descoberta de nós, dos outros, do mundo.
A vida é uma descoberta simultânea da vida e da morte.
Tudo é nosso e nada nos pertence.
Quando partimos nada levamos mas algo deixamos, porque aqui pertencemos.
O tempo esgota-se!
Não vale a pena correr.
É essa efemeridade que o torna desejável.
Se não fossemos efémeros não tiraríamos partido da vida, pois como viveríamos sempre não faríamos planos e deixaríamos sempre para amanhã o que poderíamos fazer hoje.
A vida dá-nos razões para chorar, mas trás algo para nos alegrar logo a seguir.
Somos ingratos.
Por vezes. Muitas vezes.
A vida nunca nos satisfaz.
Pobre senhora, a culpa não é dela.
A culpa é da nossa insatisfação constante.
Preocupamo-nos tanto com os pormenores que nos esquecemos que as coisas mais simples são as que nos trazem felicidade.
O riso de uma criança, uma abelha a extrair pólen de uma flor, o reflexo da lua na àgua, um pássaro a cantar, um cão a beber àgua, um beijo de um veado.
A simplicidade.
O simples é belo.
A felicidade rodeia-nos.
Se repararmos bem, as coisas simples fazem-nos sorrir!
O sorriso!
Curva sublime!
Bênção dada pela Vida!
Vou crescendo.
Mas nunca perderei o riso inocente de uma criança e o espelho no olhar.
Vou andando.
Vou metamorfando.
Vou sendo o sapo e o príncipe.
A bela e o monstro.
Vou sorrindo.
Vou vivendo.
Vou amando.
Vou andando por aí.


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O passeio da tua ausência

Passeava eu, junto ao rio, vendo os barcos de recreio passar. Como todos pareciam felizes, a navegar pelo Tejo, e eu a contemplar aquela felicidade falsa que se contraia nas gargalhadas mudas e sorrisos cinzentos. Eu fumava, libertando nuvens cheias de pensamentos carbonizados, e eles respiravam todo esse meu ar poluído de pura tristeza inocente. Vozes mudas gritavam que eu parasse, mas a minha massa cinzenta pedia mais e mais, e eu mudamente pedia perdão e fumava mais um pouco.